domingo, 22 de março de 2009

PARANÓIA OU MISTIFICAÇÃO

PARANÓIA OU MISTIFICAÇÃO
(texto publicado no jornal " O estado de São Paulo" )
Autor: Monteiro Lobato
Embora se dêem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a paranóia e a mistificação. De há muito que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios essa arte é sincera, produto lógico dos cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária mas não absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura.
(TEXTO DE MONTEIRO LOBATO (JORNAL O ESTADO DE SP)
Há duas espécies de artistas.Uma composta dos que veêm normalmente as coisas(..) A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva.(...) Embora eles se dêem como novos, percursores de uma arte a vir, nada é mais velho do a arte anormal ou teratólogico: nasceu com a paranóia e com a mistificação(...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das estravagâncias de Picasso e companhia.

Monteiro Lobato expressou em um artigo toda a sua indignação com a obra de Anita Malfatti, de inspiração cubista. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, o texto "Paranóia ou Mistificação?" é, até hoje, o exemplo mais nítido de resistência à pintura moderna.

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